quarta-feira, 11 de julho de 2007

Rua



Foi cerca de um mês de intenso trabalho, as senhoras já tinham começado há dois meses, mas eu e a minha mãe só começamos depois. Fiz de quase tudo, babysitter, recados, “florista de papel”, paquete, ouvidos, cómica, etc, etc. Mas adorei. Há muito que não me sentia tão útil e os problemas simplesmente absorveram-se. Dava a sensação que aquele papel, que se transformava em lindas imitações de flores, tinha a função de nos libertar.
Faltava uma semana e o “grande stress” tinha começado, será que ia ficar bem?! O electricista nunca mais vinha, temia-se que houvesse poucos homens para nos ajudar e não sabíamos se tudo estaria pronto na altura certa. Por isso, na quinta à tarde já estávamos a trabalhar. Velhotas a mandar, as verdadeiras “chefes” enervadas a tentar fazer o seu lugar, os que nada tinham trabalhado só estavam a tardar o trabalho, já não sabíamos se os ajudantes eram a menos ou a mais, etc, etc. Conclusão, eram 5.30 da manhã e eu ainda a pé a fazer flores que faltavam a última da hora, estávamos a muito menos de 24 horas da grande inauguração e nem sequer imaginava como me iria aguentar até lá, só sabia que dessa noite, dessa noite só existiriam quatro horas de sono, nada mais.
E lá estava eu, a fazer de babysitter de uma vitima desta grande azafama. Uma criatura de 2 anos que tinha as horas descontroladas e que por mais que tentasse ter energia para crescer... só se via nas suas expressões o cansaço que se apoderava do seu corpo. De um lado para o outro lá andei eu. As ajudas desta vez não eram tantas mas sentiu-se a falta. A maior parte já sentia que o stress já não era muito até que a principal pessoa desmaia...! Não assisti ao acontecimento, mas até achei que foi um mal necessário, pois assim foi da maneira que se acabou num instante tal foi o maior empenhamento das pessoas.
A rua estava linda, superou todas as expectativas e os primeiros comentários dos curiosos que não aguentavam e tinham que ver por debaixo da manta, já começavam a ser positivos e a encher-nos o ego. E no momento que me preparo para, finalmente, ir a casa tomar um banho... começam a dizer que a comissão que ia inaugurar estava prestes a chegar. Nem ai pude descansar! Uma muda de roupa e uns truques para que o sentimento de “não lavado” não nos ronda-se, constantemente, a cabeça...
A hora mais importante chegara, as ruas já estavam repletas de gente, mas eu ainda tinha o privilégio de ser das poucas pessoas que podiam andar na nossa, ainda não estava aberta ao publico. Já se ouviam os tambores a tocar, as pessoas trajadas já se aproximavam e o nervoso miudinho começava. Aquele momento só me fez lembrar o dos outros anos anteriores, e desta vez só faltava uma pessoa... o meu avô, mas eu sabia que estava presente, nem que fosse só no meu coração. A banda passou, a corda foi cortada, palmas e papelinhos por todo o lado, aplausos a abafarem o som dos instrumentos e a comissão toda com um sorriso de orelha a orelha a darem os parabéns pelo belíssimo trabalho. O principal objectivo estava agora cumprido. Mas não seria a partir de agora que o descanso voltaria. Ainda os meus pés tinham dias e noites pela frente, ainda não se podiam iludir. Tal era o cansaço, que nessa noite (36 horas depois com quarto horas de dormida), não conseguia dormir tal eram as dores nos pés. Mas como o ditado diz: “quem corre por gosto não cansa” e eu... eu estava feliz.

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