sábado, 15 de novembro de 2008

Ganhar asas

        Sempre fui uma pessoa de querer viajar, de sonhar em ter um apartamento numa cidade grande e ter a minha herdade num terreno tipicamente ribatejano ou mexicano para puder andar sempre de um lado para o outro. Fazer mala, chegar às tantas da noite, apanhar aviões, ter um telemóvel sempre a tocar, conhecer isto e aquilo, deitar-me com um corpo cansado mas com uma alma feliz… etc, etc.

    Pois agora, neste momento, vejo-me presa a quatro paredes, ou a quatro cantos de uma cidade pequena, já conhecendo o pouco que tem a conhecer, preenchida de pessoas fúteis, coscuvilheiras e invejosas, com quem só podemos aprender o que não fazer. Enfim… num sítio que crescer ou evoluir não são palavras que constem em dicionários de papelarias em trespasse.

    Pois é aqui mesmo que me sinto presa, por cordas indestrutíveis. Não consigo entender se é simples comodismo ou por, apesar de tudo, sentir uma certa segurança, sei que no que errar terei sempre o refúgio da minha casa e uma mãe apoiando-me incondicionalmente. Também há o factor em que tudo é perto e os acessos às coisas, às pessoas são muito mais fáceis. Aqui tudo é fácil.

    E é ai que começo a pensar que talvez não seja tão mau nunca sair daqui, um sair fixo, por tempo indeterminado. Um trabalho aqui, um trabalho acolá. O estado facilita investir nestas pequenas terriolas… uma loja aqui ou outra loja acolá. Entretanto podemo-nos meter num projecto de uma instituição de solidariedade que ainda não existe e já temos ocupação para os fins-de-semana. Os que já conhecemos ajudam-nos, ou complicam-nos, e os desconhecidos… passamos a conhecer. Vendo por este prisma… até podemos encontrar o lado positivo tantas vezes difícil de encontrar.

    Mas a quem quero eu enganar?! Passaria a ser uma outra "sócia" no "clube dos frustrados", daqui a uns anos mal saberia falar espanhol, teria que estar a suplicar a alguém que me desse umas aulas de tecnologia e saberia lá o que estava a acontecer no outro lado do mundo. Sabedoria… seria unicamente ter conhecimento do nome da amante do vizinho do lado e já me poderia achar a melhor de todos.

    Tenho que sair daqui o mais depressa possível, só me resta encontrar as forçar para cortar as cordas e ter o céu como limite. Pois no fundo, até acho que sou capaz.

    


 

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